Cidade
Perdida Mistério e encanto na floresta de Serra Nevada |
![]() |
Após horas caminhando entre as pedras soltas do rio
Buritaca - em meio a uma floresta verdejante e grandiosa - atingimos a entrada
principal das ruínas de Cidade Perdida. Nada se via, apenas o início
de uma escadaria que parecia não ter fim. Mais de 1500 degraus serpenteavam
montanha acima, nos separando do maior povoamento Tairona já descoberto.
A pausa antes de enfrentar esta derradeira subida é quase um ritual. Após dois dias inteiros de caminhada pesada, sob um calor insuportável, avançar por aqueles degraus seculares cobertos de limo exigia |
reflexão,
respeito e fôlego. Neste momento, um silêncio quase absoluto
impera entre o grupo de caminhantes, quebrado apenas pelo barulho interminável
das águas do Buritaca em |
A Serra Nevada
A Serra Nevada de Santa Marta é um maciço montanhoso isolado
do restante da Cordilheira dos Andes, que emerge abruptamente no litoral
Atlântico da Colômbia. Possui uma área total de 21.158
quilômetros quadrados, formando uma gigantesca e impressionante
pirâmide. |
![]() |
neve perpétua. Estes
picos montanhosos não estão a mais de 30 km do litoral.
Por este motivo, seus cumes eram utilizados como “faróis”
naturais pelos navegantes europeus que avançavam nas águas
caribenhas do século XVI. |
![]() |
A descoberta de Cidade
Perdida
A primeira referência sobre a existência de um assentamento
arqueológico de proporções monumentais em Serra Nevada
ocorreu em 1975, quando o Instituto Colombiano de Antropologia
obteve informações que um huaquero – caçador
e contrabandista de artefatos pré-colombianos – haviam localizado
uma grande cidade em local quase inacessível, na floresta de Santa
Marta. Era Cidade Perdida, chamada tecnicamente de |
Buritaca 200. A primeira
exploração oficial ocorreu um ano depois, em 1976, por um
grupo organizado do ICA. |
A Caminhada
A escadaria de acesso a Cidade Perdida é apenas |
![]() |
organização das
mulas e em problemas mais graves, como picadas de cobras, escorpiões,
mosquitos e carrapatos, comuns na região. A dieta, rica em sopas
de milho com batatas, pão e ovos mexidos é ideal para repor
o desgaste físico e a desidratação sofrida pelos
viajantes. |
![]() |
Ao longo da trilha é comum cruzarmos com militares armados. A cena assusta um pouco no início, mas eles estão ali justamente para garantir a segurança dos turistas. Um dos militares me explicou que chegam a viver nas matas por dois meses e, que agora, a região é segura. Antes de 1984, os guerrilheiros infestavam a região, defendendo plantações ilegais e fazendo reféns vários turistas que se aventuravam nas montanhas. Era uma forma de exigirem dinheiro como resgate. Após esta data, um acordo de não-agressão foi estabelecido entre os guerrilheiros e os |
paramilitares, tendo Cidade
Perdida como zona de não enfrentamento. Mesmo assim, é recomendável
que os turistas não se aventurem sozinhos na floresta. |
À noite, fomos brindados
com um luar magnífico, que transformava gigantescas árvores
em sombras quase fantasmagóricas. Infelizmente, as cabanas –
que ficam dentro das ruínas – estavam em péssimas condições,
devido a grande umidade. Muito do madeiramento podre serve de esconderijo
para escorpiões e baratas. Para ajudar, os turistas costumam deixar
tudo o que não querem mais carregar neste local, como livros, roupas,
chinelos velhos, recipientes vazios... Na manhã seguinte, realizamos
a visita oficial às ruínas. Atualmente, podem ser visitadas
50% de Cidade Perdida. O restante ainda está para ser desobstruído
da vegetação. Mas isso já é suficiente para
ver o maravilhoso exemplo de arquitetura pré-colombiana realizado
pelos taironas. Eles praticamente “moldaram” suas residências
a natureza, interferindo de forma harmoniosa quando necessitavam construir
caminhos e plataformas de contenção, redondas em sua grande
maioria. Essas plataformas podiam ser do tamanho de |
![]() |
uma única cabana, ou
enormes - com fins cerimoniais - como a que domina a região |
![]() |
Os Taironas No século XVI, existiam em Serra Nevada diferentes grupos étnicos.
Entre eles os Tairos, cujo principal povoado era Taironaca.
No século XVII, esses grupos foram chamados genericamente “taironas”,
pelos cronistas espanhóis. Acredita-se que estes grupos tenham
se estabelecido na região por volta de 400 de nossa era, atingindo
seu auge no ano 1000. Sua maioria pertencia a família lingüística
dos chibchas, dialeto compartilhado com diversos grupos da América
Central, e das atuais Venezuela e Colômbia. |
Como não ocorreu a colonização
da região, a Serra acabou por tornar-se o principal refúgio
|
![]() |
|
![]() |
|
![]() |
“Dalton Delfini Maziero é historiador, maquetista, expedicionário e idealizador do site Arqueologiamericana. Dedica-se atualmente, à construção de maquetes arqueológicas e instalação de espaços culturais” |