Em
1914, o Metropolitam Museum de Nova York reuniu em numerosas caixas,
uma coleção de peças arqueológicas e etnológicas
considerada pouco interessante do ponto de vista artístico e cultural.
Seus diretores na época, procuravam apenas ganhar espaço para
a inclusão de novas peças de arte européia, consideradas
mais atrativas e valiosas. As caixas foram enviadas então ao Museu
de História Natural, repletas de artefatos arqueológicos provenientes
de antigos povos pré-colombianos e outros, originários da
África e Ásia (1).
Embora interessantes, aquelas
peças representavam uma mera curiosidade etnológica para a
maioria dos cientistas. Eram classificadas genericamente como Arte Primitiva,
termo com certo sentido pejorativo, determinante de uma arte menor, sem
o brilho e importância das pinturas e esculturas modernas.
Quase 70 anos depois, o mesmo
Metropolitam Museum abriria suas portas para novas, modernas e atrativas
instalações, destinadas à exposição permanente
das peças de arte dessas mesmas civilizações pré-colombianas,
africanas e asiáticas que antes havia ignorado. Essa radical mudança
na linha de exposição do acervo, valorizou os artefatos arqueológicos
junto aos colecionadores e refletiu o gosto popular, alimentado pelas notícias
de novas e empolgantes descobertas no continente americano, como a de Machu
Picchu em 1911, por Hiram Bingham.
Capa do catálogo "Peru
pré-hispanico - 3000 anos
de arte", VII Bienal, 1963 |
Em
1962, no Brasil, a Fundação Bienal de São Paulo
dava o passo inicial para a primeira mostra de arte pré-colombiana
em nosso país, a ser exposta na VII Bienal de Arte (1963).
Tencionava o fundador da Bienal, Francisco Matarazzo Sobrinho, reunir
em uma única exposição, obras antigas e representativas
de todos os "estados" americanos em conjunto com
a OEA. Segundo a proposta original - modificada posteriormente - era
"intuito da Bienal de São Paulo levar ao conhecimento
do povo brasileiro, da comunidade dos países americanos e,
em especial modo do mundo extra-continental, as magníficas
obras de arte do período pré-colonial dos diversos países
americanos" (2). Seriam 50 peças de cada país,
entre as mais expressivas de sua arte, elaboradas em ouro, prata,
cobre, cerâmica, tecido, pedra e madeira.
A VII Bienal revelou,
senão um panorama das raízes artísticas em nosso
continente, ao menos novos elementos sobre o passado americano, então
desconhecidos do
visitante leigo. |
O que une esses dois acontecimentos
envolvendo o Metropolitam Museum de Nova York e a Fundação
Bienal de São Paulo não é apenas a valorização
dos artefatos pré-colombianos, mas antes de tudo, o reconhecimento
de uma arte legitimamente americana. Em algum momento entre 1914 e 1963,
os americanos começaram a olhar para seu próprio continente,
sua arte e cultura. Esse processo culminou com a valorização
da arte nativa e conseqüentemente, a conscientização
de uma identidade americana. Esse "movimento" que amadureceu
ao longo do século XX - complementado pelas exposições
artísticas - resultou recentemente, com a Mostra do Redescobrimento
(Brasil 500 Anos) e com a exposição Brasil, 50 Mil Anos,
promovida pelo MAE (USP).
Ciccillo transparecia em suas
cartas a necessidade de valorizar a relação entre os países
americanos, através de manifestações de nossa arte
pré-colonial. Dispondo de recursos financeiros, semeava suas idéias
na forma de exposições de arte e fundações
de museus. Em correspondência com Arturo Croce, diretor da Casa
de Cultura e Belas Artes de Caracas, escreveu manifestando sua vontade
em que as exposições de arte pré-colombiana conduzissem
a "um expressivo sentido de colaboração cultural
entre os países do
continente" (3).
Seu sentimento em relação
a arte antiga gerou a idéia de criação do primeiro
museu de arqueologia paulista. Surgia assim, na época da VII Bienal,
o MAA (Museu de Arte e Arqueologia), mais tarde MAE (Museu de Arqueologia
e Etnologia) da USP. Jornais de época e documentos pertencentes
ao acervo pessoal de Francisco Matarazzo Sobrinho - sob guarda da Fundação
Bienal - revelam que a criação do antigo MAA partiu de iniciativa
do senhor Matarazzo, após a realização de uma viagem
a Nápoles (Itália), onde conheceu as escavações
das antigas ruínas de Herculano e Pompéia.
O acervo do Arquivo Histórico
Wanda Svevo (Fundação Bienal de São Paulo) revela
a estreita relação entre a exposição pré-colombiana
realizada na VII Bienal e a inauguração do MAA (USP), conforme
jornal de época: "Com uma exposição no recinto
da VII Bienal, a Universidade de São Paulo inaugurará o
Museu Arqueológico de História e Arte Antiga, o primeiro
a ser fundado no Brasil" (4).
Museu de Arte e Arqueologia da
USP. Figura no trono; pormenor de peitoral de prata. Peru, cultura
Chimu, séc. XII |
Em
25 de junho de 1964, o Diário de São Paulo publicava:
"Será inaugurado hoje, às 11:00 horas, no Edifício
da Reitoria da USP, o Museu de Arte e Arqueologia, já integrado
no patrimônio da Universidade. Estarão presentes altas
autoridades, professores e estudiosos da matéria, que poderão
apreciar as 549 peças expostas à visitação
pública. Deve-se ao senhor Francisco Matarazzo Sobrinho a criação
do Museu, que é o primeiro do gênero em toda a América
Latina. Em uma de suas visitas a Itália, viu o senhor Matarazzo
a possibilidade que, do ponto de vista histórico, artístico
e humanístico, ofereceriam as escavações de Herculanum;
e conhecendo as dificuldades que impediam o trabalho, principalmente
as decorrentes da recusa de mudanças, por parte de velhos moradores
do local, providenciou a construção de prédios,
em outros pontos, tendo para tanto, montado uma organização
especializada. Vencido o primeiro obstáculo, as escavações
foram reiniciadas, surgindo daí, a possibilidade de organizar-se
um Museu no Brasil, onde se tornasse possível, através
de peças originais e réplicas, desenvolver entre a geração
presente conhecimento amplo, sobre bases científicas, das antigas
civilizações mediterrâneas." |
Partilhando
da visão idealizadora de Ciccillo, sua maior colaboradora,
Wanda Svevo - responsável pela organização
inicial do Arquivo de Artes da Fundação Bienal - escreveu
como intenção da Bienal "emprestar o maior
ênfase possível aos artistas dos países americanos
e mostrar ao mesmo tempo as tradições culturais específicas
desse
continente" (5).
Nem a morte prematura
de Wanda Svevo num desastre de avião em 1962 - justamente
quando se dirigia a Lima em busca das peças pré-colombianas
para a VII Bienal - diminuiu o interesse pelas mostras de artefatos
arqueológicos. Nas Bienais seguintes, novas tentativas foram
feitas no sentido de reunir, da maneira mais ampla possível,
a representação das antigas culturas americanas.
Museu de Arte e Arqueologia da USP.
Pormenor de faixa de tecido, com motivo de pelicanos bordados em
lã. Peru, cultura Inca, séc. XV |
|
Ao longo de 50 anos de exposição
de arte, foram várias as culturas representadas nas Bienais. Do
Peru, vieram os Chavin, Inca, Recuay, Mochica,
Paracas, Nazca, Chimu, Chancay e Vicus.
Da Argentina, os Condorhuasi, Ciénaga, Santamariana,
Aguada, Candelária e Belén. Da Colômbia,
Tolima, Muisca, Sinu, Darien, Calima
e Quimbaya. Da Bolívia, os Tiwanaku. Do Brasil, vieram
os Marajós, Santarém, Cunani, Tupiguarani
e Guarita, sem contar as inúmeras peças de arte plumária
e utilitárias, provenientes de grupos nômades ou sedentários,
distribuídos pelo nosso continente.
Capa do catálogo "30
peças de ourivesaria pré-hispânica", VII
Bienal, 1963
Capa do catálogo "Argentina,
arte antes da história", VII Bienal, 1963
|
Dentro deste contexto, a VII
Bienal foi um marco na realização de mostras de arte pré-colombianas,
abrindo caminho para outras tentativas como as da VIII (1965), IX (1967)
e principalmente XVI (1981), que conseguiu reunir novamente um grande
conjunto de peças arqueológicas, na exposição
intitulada Música e Dança no Antigo Peru.
Contudo, artefatos brasileiros somente ganharam destaque a partir da XVII
Bienal (1983), na exposição
Arte Plumária do Brasil.
Ao longo das décadas
de 70-80, a arte antiga de nossos indígenas parece ter passado
pela mesma experiência da arte pré-colombiana em relação
aos grandes museus americanos. A arte indígena brasileira, relegada
ao esquecimento, silenciava sobre nossas raízes. Somente na década
de 90, mostras paralelas às Bienais, como Tradição
e Ruptura (1994) e Mostra do Redescobrimento (1999) remediaram
a situação, apresentando aos brasileiros, painéis
elucidativos de nosso passado.
As Bienais de São Paulo e mostras paralelas:
IV Bienal (1957)
Segundo matéria do
jornal O Tempo (28/08/57), uma grande mostra estava sendo planejada
para a IV Bienal de São Paulo. Tratava-se de uma apresentação
didática da arquitetura mexicana, intitulada "4000 Anos
de Arquitetura Mexicana". Nela, estariam contidos capítulos
da arquitetura pré-colombiana até o período Moderno
mexicano. No período Pré-Hispânico, o destaque ficava
por conta das edificações Olmeca, Teothihuacana,
Totonaca, Tolteca, Zapoteca e Maya. A mostra
ganharia uma Sala Especial na IV Bienal, no setor dedicado a Arquitetura.
Capa do folder "4000 anos
de arquitetura mexicana", 1962 |
Um ano antes (1956), correspondência
de Carlos Martins Thompson Flores (Embaixador no México) a Francisco
Matarazzo Sobrinho davam conta que tudo ia bem na negociação
da mostra: "A exposição consta atualmente de 250
fotografias em preto e branco de tamanho médio de cerca de 50 x
40, coladas sobre uma superfície de alumínio articuladas
para poder formar painéis, o que facilita sobretudo sua exibição...Para
a IV Bienal, porém...seria acrescida de mais 100 fotografias. Além
disso, pela época da Bienal, estará pronto um filme a cor
de longa metragem e em 35 mm sobre o mesmo tema da exposição
e que a completará. Este filme destina-se a ser exibido em Moscou
na primeira metade do ano de 1957. Irá ao Brasil uma cópia
possivelmente falada em português para a IV Bienal". Os
documentos contudo, não deixam claro o motivo do cancelamento da
exposição no ano seguinte.
Somente em 1960, a exposição
oficial - promovida pela Sociedad de Arquitectos Mexicanos - chega
ao Brasil. Não mais para a Bienal de São Paulo, mas seguindo
um roteiro por diversas cidades. Segundo o jornal Tribuna da Imprensa
(RJ-15/02/60), a exposição ficou instalada com grande sucesso
no MAM-RJ, MAM-SP e finalmente MAM-BA.
VII Bienal (1963)
Visitantes na mostra de arte pré-colombiana
da VII Bienal. Foto de Athayde de Barros |
Em
1963, a Fundação Bienal de São Paulo, então
desvinculada do MAM, conseguiu realizar sua primeira grande mostra
de arte pré-colombiana, reunindo em uma mesma sala, 487 peças
representativas de 24 culturas sul-americanas, em diversas estantes
de vidro e madeira. Ao que tudo indica, esta foi a primeira mostra
de arte pré-colombiana do Brasil, a tentar apresentar um painel
da arte nativa em nosso continente.
A exposição
pré-colombiana foi dividida geograficamente em três grandes
blocos, abrangendo os territórios do Peru (Peru Pré-hispânico
- 3000 anos de arte), Argentina (Argentina - Arte antes de
la história) e Colômbia (Colômbia - Museo
Del Oro / 30 piezas de orfebreria Prehispánica). Para cada
uma delas, foram produzidos catálogos específicos. |
Seu sucesso de público
e crítica foi imenso, recebendo um número de visitantes
comparável às salas dos artistas premiados. Várias
foram as ofertas de itinerância da mostra por parte dos comissários
europeus.
O acesso a exposição
ocorreu pelo terceiro pavimento do edifício da Fundação
Bienal, em sala reservada. Logo na entrada, o visitante podia ver em letreiro,
"Homenagem a Wanda Svevo", lembrando a morte da secretária
que foi pessoalmente, cuidar da vinda da exposição ao Brasil.
A Tribuna de Santos - 06/10/1963
Pré-Colombiana na VII Bienal
por Geraldo Ferraz
"No terceiro pavimento
do Pavilhão Armando de Arruda Pereira, no Ibirapuera, onde
se encontra instalada a VII Bienal, há uma parte dedicada
à arte pré-colombiana. À porta, à esquerda,
visitante, repare no letreiro: "Homenagem a Wanda Svevo".
Foi na
viagem que empreendeu para o Peru, em vista da organização
da atual exposição de Arte Pré-Colombiana,
que Wanda Svevo, então secretária geral da Bienal,
em novembro do ano passado, encontraria a morte no desastre
do avião que a transportava. Morta em missão da
Bienal, a voluntariosa triestina, que tanto fizera pela instituição,
encerrou num momento de trabalho, desse trabalho a quem tanto
amava e a que dedicou tanto de sua curta vida (dez anos pelo
menos ela os deu à Bienal nos quarenta vivido), é
justo que fique ligada ao início desta tentativa de incorporar-se
à Bienal a história das artes pré-colombianas,
o seu nome de guerra. Ela o adotava da família de Italo
Svevo, o grande escritor de "A consciência de Zeno",
que James Joyce, de Trieste, revelou ao mundo. |
Wanda Svevo,
uma presença na exposição pré-colombiana
|
Esse desenho admirável
de síntese de um artista pré-colombiano na VII
Bienal |
Os
entendimentos para esta exposição começaram
em janeiro de 1962, entre o presidente da Bienal, Matarazzo
Sobrinho, Wanda Svevo e o conselheiro atual sr. Oscar P. Landmann.
A este coube, afinal, a coordenação da grande
exibição. A nova secretária geral, d. Diná
Coelho, deu ao movimento todo o esforço e dedicação.
E a exposição é um dos grandes motivos
pelos quais se deve visitar e estudar a VII Bienal. |
Cerca de 400 peças
é o que nos mostra a exposição, e elas abrangem
um período que cobre 3000 anos de arte pré-colombiana.
A maior contribuição aqui reunida é a que foi
enviada do Peru, procedente de oito coleções particulares,
das quais a maior parte jamais foi exposta fora do país.
No Peru, manifestou-se, também, para o fim visado, a cooperação
do IAC (Instituto de Arte Contemporânea), tendo a Diretoria
desta entidade, especialmente o sr. Manuel Mojica Gallo, seu presidente,
dado a mais entusiástica participação, bem
como a secretária do IAC, sra. Angélica A. de Moncloa,
que se encontra em São Paulo. Para a montagem da exposição,
e desde os trabalhos preparatórios, o IAC contratou os serviços
técnicos do sr. Juan Luiz Pereira, especialista em objetos
de arte pré-colombiana, o qual acompanhou a realização,
e ainda se acha em S. Paulo.
Artes das diversas culturas
das áreas em que se fixaram os indígenas na região
hoje constituída pelo Peru, Colômbia, Equador e Argentina,
acham-se representadas nessa exposição. O conjunto
procedente do Peru representa uma coleção, a que cabe
o qualificativo de maravilhosa, de tecidos pintados e bordados,
de peças de até 2000 anos, uma coleção
de 100 peças trabalhadas em ouro, e mais de 200 peças
das mais essenciais culturas pré-colombianas, concretizadas
pela cerâmica das culturas Chavin, Paracas, Muchica, Chimu,
Nazca e várias outras. A cultura Inca, a mais conhecida,
termina na conquista espanhola, no século XVI.
Enriquece a exposição
que se acha na Bienal, uma coleção de peças
de ouro, que o Banco da República da Colômbia - proprietário
do Museo Del Oro - colocou, generosamente, à disposição
da exibição das peças pré-colombianas.
Esta coleção de valor inestimável foi especialmente
trazida de Bogotá pelo secretário do Banco da República,
sr. Álvaro Velez Plaza.
Finalmente, ainda há
a contribuição Argentina. Do vizinho país veio
uma pequena coleção de objetos de cerâmica e
pedra, expressando significativos valores artísticos da arqueologia
Argentina. Acham-se esses objetos expostos em duas vitrinas, e é
inegável o interesse histórico e artístico
que oferecem. A coleção foi cedida, para o panorama
que a exposição pretende ser, pelo Ministério
das Relações Exteriores da República Argentina.
Quanto a montagem, não
poderia ser mais cuidada. Desde a entrada, onde se encontram fotografias
da região do Altiplano em que se sentou parte da civilização
pré-colombiana, até às fotografias coloridas,
iluminadas, das ruínas donde procederam muitas peças
desse patrimônio arqueológico, o bom gosto e a informação
primam. Atrasado o comparecimento destas peças, não
foi possível ter-se o catálogo em tempo, o que se
dará nos próximos dias. Trata-se de um catálogo
especialmente redigido e que está sendo impresso para fazer
com que a exposição pré-colombiana tenha todo
o rendimento cultural.
Possivelmente, nem mesmo
nos famosos museus dos Estados Unidos e da Europa se encontrem tão
bem exemplificados, como nesta exposição da VII Bienal,
aspectos marcantes da arte pré-colombiana, pelo nível
seletivo das peças que compõem os conjuntos, seja
em cerâmica, em tecido, em ouro e outros metais.
A exposição,
já o dissemos é um primeiro passo. A Bienal o tomou
como ponto de partida para futuras realizações, em
que as culturas pré-colombianas sejam mostradas, no quadro
das salas especiais informativas de arte, que oferecem tamanho interesse
aos estudiosos. A América poderá melhor conscientizar
sua cultura mediante estes exemplos."
|
VIII Bienal (1965)
O sucesso da mostra pré-colombiana
na VII Bienal motivou a direção da Fundação
Bienal a tentar outra, novamente com foco na arte mexicana. Alguns poucos
documentos localizados no Arquivo Histórico Wanda Svevo dão
conta que esta mostra fracassou por desinteresse das autoridades mexicanas,
que alegaram impossibilidade na seleção das obras, devido
a reformas em seu prédio e permanência de suas melhores peças
em exposições pelos EUA.
IX Bienal (1967)
Ocorreu dentro da IX Bienal,
uma mostra de arquitetura constituída em parte por maquetes e painéis
dedicados a arqueologia peruana. Essa exposição levou o
nome de Arquitetura Pré-Colombiana do Peru, com conferências
e slides do Prof. E. Harth-Terré, da Universidade Nacional de Lima,
sobre "Monumentos do Antigo Peru". A maquete apresentada
foi posteriormente doada ao reitor da USP. Os detalhes ainda obscuros
dessa mostra, exigem uma maior dedicação junto a documentação
histórica do Arquivo da Bienal, principalmente no que se refere
ao destino da maquete e do filme apresentado na ocasião.
XVI Bienal (1981)
Novamente a arte pré-colombiana
ganha destaque através de uma grande mostra intitulada Música
e Dança no Antigo Peru, apresentando uma evolução
temporal do desenvolvimento de instrumentos musicais e apetrechos de dança.
Reunindo mais de 200 obras, em 20 vitrines, a exposição
revela tambores, flautas e peças relacionadas ao mundo musical
e coreográfico dos antigos povos peruanos.
Capa do catálogo "Música
e Dança no Antigo Peru", XVI Bienal, 1981 |
A mostra, organizada pelo
Museu de Arqueologia e Antropologia de Lima, e Instituto Nacional
de Cultura do Peru, trouxe artefatos em cerâmica, madeira, osso,
concha, prata, cobre, taquara, cabaça e fibras, abrangendo diversas
culturas, como a Paraca, Chimu, Nasca, Mochica
e Inca. Ocarinas, flautas, tambores, chocalhos, apitos, guizos,
trombetas e adornos sonoros - além de vasos e estátuas que
representavam animais e figuras humanas tocando música e dançando
- revelaram a persistência das tradições pré-colombianas.
Acompanhavam a exposição painéis explicativos e dois
vídeos. Além do valor documental, as peças eram de
grande interesse artístico, tendo a exposição obtido
um extraordinário sucesso.
XVII Bienal (1983)
A arte dos indígenas
brasileiros foi lembrada somente na mostra Arte Plumária do
Brasil, que ganhou destaque na XVII Bienal de São Paulo. Embora
não componha uma exposição de peças antigas
como as pré-colombianas do Peru, Argentina e Colômbia, revela
uma atenção tardia quanto à arte dos nossos primeiros
habitantes. Foram apresentadas mais de 50 peças, além de
fotos e painéis.
Tradição e Ruptura - Síntese da Arte e Cultura
Brasileira (1994/95)
Pela primeira vez a arte
pré-cabralina é incorporada em uma mostra nacional, que
pretendeu ser uma síntese da arte e da cultura brasileiras. O período
pré-colonial foi representado com pedras lascadas, peças
marajoaras, pinturas rupestres e arte indígena além de painéis
fotográficos.
Temas como a "Tecnologia e arte das sociedades pré-coloniais
brasileiras" e "Arte indígena e sobrevivência
cultural" foram exploradas nesta mostra de grande sucesso popular.
Mostra do Redescobrimento / Arqueologia
A Mostra do Redescobrimento
originou-se a partir de uma decisão do Conselho da Fundação
Bienal de São Paulo, desligando-se posteriormente e transformando-se
na Fundação Brasil 500 Anos e em seguida, Brasil
Connects.
Finalmente a arte pré-colonial brasileira é utilizada como
referencial para compreensão de nossa própria identidade.
Módulos como Arqueologia, A primeira descoberta da América,
Arte: Evolução ou Revolução? e Artes
indígenas recriam um painel histórico com centenas de
peças tridimensionais. Pela primeira vez, existe um claro esforço
no sentido de rever nosso passado artístico, teorizando questões
e acessando-as ao público visitante. As peças expostas não
são mais escolhidas apenas pela sua beleza estética, mas
pela sua capacidade de interagir e elucidar nosso passado histórico.
Foram apresentadas cerca de 150 peças arqueológicas, sem
contar dezenas de outras referentes às Artes indígenas (plumária,
cestaria e ornamentais).
(1) "Tesouros da Selva"; in Revista Veja, São
Paulo, pg. 60, 1982.
(2) Carta de Francisco Matarazzo Sobrinho a Julio César Banzas,
Diretor da OEA, 05/10/1962.
(3) Carta de Francisco Matarazzo Sobrinho a Arturo Croce, Diretor da Casa
de Cultura e Belas Artes de Caracas, 22/11/1962.
(4) Será a 27 o vernissage da VII Bienal; o Brasil ganha museu
arqueológico; in O Estado de São Paulo, 21/09/1963 [?]
(5) Carta de Wanda Svevo a J. M. Cruxent, Diretor do Museu de Bellas Artes,
de Caracas, São Paulo, 22/11/1962.
O autor agradece a cortesia
da Fundação Bienal de São Paulo e Arquivo Histórico
Wanda Svevo, pelo uso das imagens e documentação
histórica.
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