Além
de Lomellini, Bingham contou com o apoio de outros participantes americanos
(Isaiah Bowman, geólogo/topógrafo; William G. Erving, cirurgião;
Kai Hendrikson, topógrafo; Harry W. Foote, naturalista; H. L. Tucker,
engenheiro e Paul B. Lanius, assistente) e vários carregadores. O
grupo seguiu através do majestoso Vale do Urubamba, sempre acompanhado
do caudaloso e barrento rio de mesmo nome. No caminho, conheceu várias
ruínas menores como Salapuncu, Llajtapata, Q'ente,
Torontoy, além da grande Ollantaytambo. Para desespero
da equipe, que já se impacientava com as dificuldades do trajeto,
a cada nova ruína visitada, eram obrigados a ouvir de Bingham que
não era aquilo o que procurava, citando de cabeça os detalhes
encontrados nas crônicas antigas. Ele buscava uma capital, local que
deveria abrigar grandes edifícios, com templos, sepulturas e patamares.
Nenhuma das ruínas vistas até então eram dignas das
descrições de religiosos e soldados espanhóis na época
da conquista.
Por onde passava, Bingham perguntava
aos camponeses sobre grupos arqueológicos. Em uma dessas paradas,
na localidade de Mandorpampa, interrogou através de um intérprete,
o camponês quêchua conhecido como Melchor Artega, que de imediato
apontou para o alto da montanha dizendo: "Machupijchu",
traduzido como "Topo Antigo".
Melchor não compreendia
qual o interesse dos estrangeiros naquele amontoado de pedra, e relutou
em levá-los ao local, resistência que logo esmoreceu frente
ao pagamento de "um Sol", o equivalente a três salários
básicos do país, na época. A subida, na manhã
chuvosa e fria do dia 24 de junho de 1911, foi desgastante e perigosa. A
travessia por uma ponte que não passava de alguns troncos deitados
sobre o caudaloso Urubamba, foi somente uma amostra das dificuldades da
região. Qualquer escorregão seria fatal. Como se não
bastasse, tiveram que se embrenhar num mato espesso, correndo risco de serem
mordidos a qualquer momento pela temida "serpente de ouro", também
conhecida como "chicotillo", uma cobra venenosa capaz de
grandes saltos. Para surpresa de Bingham, a cansativa subida acabou com
o encontro de outros camponeses já na entrada das ruínas,
que os receberam com cabaças cheias de água. As duas famílias
que lá se encontravam, eram chefiadas por Toribio Richarte e Anacleto
Alvarez, que plantavam batatas, abóboras e legumes nos antigos patamares
de Machu Picchu, com o intuito de fugirem dos impostos próximos às
cidades. A desilusão do arqueólogo era evidente. Ao invés
de templos, havia encontrado duas cholpanas miseráveis.
Após um breve descanso,
Bingham foi acompanhado por um garoto índio que o levou por entre
árvores, muita vegetação e pedras soltas, até
a encosta da montanha, de onde revelou-se uma imagem irreal. Como por encanto,
enormes patamares de plantio se abriram aos seus olhos, e uma centena de
estruturas arquitetônicas deixavam-se ver por entre emaranhados de
arbustos e árvores. O garoto - cujo nome nunca é citado, é
procurado por outras expedições sem que jamais seja encontrado
novamente - leva-o até a Tumba Real, o Templo das Três Janelas
e o Templo Principal. Desta forma, Machu Picchu deixa seu abandono secular,
para revelar-se ao mundo moderno. |